A proposta de introdução de novas tecnologias de informação e comunicação na educação exige um repensar do processo educativo como um todo, sob pena de apenas realizarmos uma mudança superficial. Isto porque, como toda tecnologia, a TIC “...não permite somente o agir sobre a natureza, mas é, principalmente, uma forma de pensar sobre ela.” (LEITE, 2006, p. 13) Assim, a introdução das tecnologias de informação e comunicação na educação, além de diretamente relacionada ao modelo educacional adotado, está intimamente ligada a algumas questões: o desenvolvimento de competências para a resolução de problemas que afetam a existência do grupo, a dificuldade de incorporar novos saberes e a necessária organização do processo educativo de maneira a fazer com que o aluno sinta-se parte ativa neste processo.
Com relação à importância da educação como um meio do desenvolvimento de competências, esta vai além do aspecto imediato, pois as questões abarcadas pelo processo educativo, apesar de referidas ao cotidiano das pessoas, também dizem respeito à sobrevivência dos seres humanos como espécie. A educação assegura o aprendizado de mecanismos adaptativos que garantem não apenas a nossa sobrevivência material como também cultural num sentido mais amplo. Por isso que os animais, mesmo dotados de mecanismos básicos de autodefesa, não conseguem transcender as limitações dadas pelo instinto. Entre os seres humanos, no entanto, a força do costume pode afetar o desenvolvimento da educação na medida em que o apego às tradições impede a percepção dos elementos que devem ser renovados. Neste sentido, as autoridades constituídas (governantes, religiosos, pais, professores etc.), podem representar obstáculos à superação de práticas que não mais condizem com o ritmo de desenvolvimento social, na medida em que adotam posturas conservadoras em relação a novas idéias e métodos educativos. É ao que Nóvoa (apud LEITE & NEVES, 2006) refere-se como efeito de rigidez.
Numa proposta pedagógica que proponha uma ruptura com os modelos tradicionais de ensino, o cumprimento da missão educativa do professor vai além da mera transmissão dos conteúdos, pois necessita da participação ativa dos estudantes e do uso adequado dos recursos didáticos. O processo educativo contemporâneo deve valorizar não apenas a interação entre professor e estudantes, mas uma interação com sentido para ambos, pois os conteúdos trabalhados precisam ser articulados à realidade vivida pelos participantes, que se sentem, todos, partes ativas no processo (CORRÊA, 2006). Contudo, não podemos perder de vista que as desigualdades de acesso aos recursos existentes também podem limitar as possibilidades de renovação das práticas educativas. Podemos citar como um exemplo desta limitação a situação de exclusão digital em que atualmente vivemos no Brasil, onde menos de 10% da população tem acesso à Internet (IBGE, PNAD, 2005). Se pensarmos nas possibilidades criadas por esta nova tecnologia, podemos perceber que esta situação impede o domínio de habilidades que são de extrema importância na sociedade em que vivemos.
O advento das novas tecnologias de informação e comunicação trouxe para a educação novas possibilidades na medida em que permitiu a transposição de barreiras geográficas e interconectou espaços antes nunca estimados. Atualmente, é possível aliar novas tecnologias às práticas educativas e ampliar o acesso de segmentos diversificados e até então excluídos ao conhecimento, como moradores de locais de difícil acesso ou localizados em áreas mais afastadas dos grandes centros urbanos.
As possibilidades trazidas pelas novas tecnologias, no entanto, trazem consigo dificuldades que precisam ser superadas, sob pena de ameaçar a ampliação do acesso à educação. O pequeno número de pessoas que têm familiaridade com tecnologias como a Internet, aliado ao custo ainda elevado de aquisição de equipamentos como computadores, impede o acesso de um maior número de potenciais beneficiários de modalidades de educação como EaD, que atualmente tem nestes recursos aliados fundamentais. Além disso, os agentes responsáveis pela mediação dos processos educativos, os professores, ainda não criaram uma cultura didática que incorpore recursos menos tradicionais.
Concluindo, percebo que o potencial criativo implícito nas novas tecnologias de informação e comunicação ainda não foi minimamente explorado por um segmento populacional expressivo devido às dificuldades socioeconômicas e de formação educacional, o que faz com que o que é vivido como realidade por uns seja apenas virtualidade para outros. Assim, um dos grandes desafios a serem superados no processo de renovação educacional a partir da introdução de novas tecnologias de informação e comunicação é o acesso desigual às novas formas de educar.
Referências Bibliográficas:
CORRÊA, Juliane. “Mídias e tecnologias da informação na educação”. In: SENAC. Curso de Especialização em Educação à Distância - Unidade II. Rio de Janeiro: SENAC, 2006. p. 30-34.
IBGE. “Acesso à Internet e posse de telefone móvel celular para uso pessoal”. In: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - 2005. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/acessoainternet/default.shtm
LEITE, Márcia. “Tecnologia e educação”. In: SENAC. Curso de Especialização em Educação à Distância - Unidade II. Rio de Janeiro: SENAC, Rio de Janeiro: SENAC, 2006.
LEITE, Márcia, NEVES, Maria Cristina Baeta. “Usos e funções das mídias e das tecnologias da informação na educação”. In: SENAC. Curso de Especialização em Educação à Distância - Unidade II. Rio de Janeiro: SENAC, 2006. p. 35-83.
© 2008 Zelinda Barros. Reprodução permitida, desde que citada a fonte.
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