Seguidores do Blog

quarta-feira, 12 de março de 2008

Aprendizagem e interatividade (Zelinda Barros)

O processo de aprendizagem necessita da interação entre os diversos atores envolvidos. Além do planejamento das estratégias a serem utilizadas para o alcance de determinados objetivos, preconizado pelas teorias comportamentais, é necessário entender a motivação para a ação não apenas como algo determinado pelo resultado pretendido, mas também como efeito da interveniência de fatores internos, de cunho subjetivo, e de fatores socioeconômicos. A interatividade, crucial para o processo de aprendizagem, não é apenas aquela proporcionada pelo uso de máquinas como o computador ou recursos didáticos como livros e outros. É imprescindível a interação com quem detém o privilégio da capacidade de agir: o ser humano.
A importância do humano no processo de aprendizagem vai além da programação do ensino utilizando como suporte materiais que estimulem o auto-aprendizado. Para a passagem de um nível a outro, é preciso não apenas o reforço advindo do êxito obtido na resposta dada ao desafio inicial, mas também o feedback do professor, que partilha a humanidade com o aluno e que, como ele, também necessita de reforços de caráter afetivo.
O modelo de ensino preconizado por Skinner, por exemplo, enfatiza as idéias de condicionamento, modelagem comportamental, reforço. Neste modelo, a ação depende em demasia de estímulos externos e tende a, mesmo prevendo a reelaboração do comportamento pelo sujeito, maximizar a importância do controle sobre o processo de aprendizado. A iniciativa parte de um processo que é uma via de mão única: não é a interação eu/outro em si (condicionada pelo meio em que ocorre) que produz um determinado comportamento, mas uma determinada ação, partindo de alguém que provoca uma resposta que pode até mesmo resultar num comportamento modificado. Em se tratando de comportamento humano, esta previsibilidade não necessariamente ocorrerá, por melhores calculadas que sejam as alterações no ambiente.
A interação como o tutor consistiria uma espécie de reforço positivo ao processo de aprendizagem. Como existe a distância física e o estudo realizado na maior parte do tempo isoladamente suscita muitas dúvidas, na medida em que o tutor coloca-se à disposição do aluno para dirimir dúvidas e estimular novos questionamentos, instiga o aluno a fazer novas pesquisas e o aprendizado torna-se mais prazeroso, fazendo com que o papel do controle aversivo (punição) diminua em importância ou perca a razão de existir. Mesmo tendo o feedback do tutor como um reforço positivo, podemos inferir que é dada maior ênfase aos aspectos cognitivos no processo de aprendizagem. O sucesso de determinada ação educativa não prescinde da consideração de facilitadores como a compreensão e o respeito às diferenças culturais, de gênero e outras.
O ser humano é um ser relacional e afetivo e, como tal, dificilmente poderá prescindir da afetividade no processo de construção do conhecimento. Como uma modalidade que requer do aluno maior autonomia e à(ao) professora(r) não convém adotar a postura tradicional de mera(o) transmissora(r) de conhecimento, na EaD também é importante saber que não estamos "soltos", sem a possibilidade de interação e troca com outra(s) pessoa(s).
O papel da(o) professora(r), neste contexto, é balizar o processo de construção do conhecimento de forma tal que também ela(e) se veja estimulada(o) a crescer e mantenha-se aberta(o) ao conhecimento oriundo dos discentes, promovendo uma troca. Também na EaD esta postura é requerida. Apesar do suposto distanciamento existente nesta modalidade de ensino, também nela é possível desenvolver um processo em que a proximidade assuma novas formas, agora mediada por novas tecnologias.
Dada a necessidade do outro ser humano no processo de aprendizado, uma característica que seria preponderante na EaD, a possibilidade de aprendizado indepedente é, a meu ver, super-valorizada. Nem mesmo na EaD é possível ser auto-didata. É possível ter uma autonomia maior, mas auto-didata não é possível ser. O conhecimento, por sua própria natureza, é coletivo, não sendo possível construir conhecimento sem interação ou a partir de si própria(o). Quando interajo, me abro à influência do outro e sou afetado por suas idéias, ainda que seja para me contrapor a elas. Ao mesmo tempo, ainda que não interaja hoje com alguém, recebo influências d@s que me antecederam.
Sendo a construção do conhecimento um processo coletivo, a mediação pode ser realizada por tutor/a e alunos/as a partir da troca que se estabelece entre ambos. No entanto, assim como a independência aluno deve ser relativizada, também deverá ser a similaridade entre o papel desempenhado pelos diferentes atores no processo de aprendizado. Em se tratando do desenvolvimento de um determinado conjunto de competências, a tarefa do tutor se diferencia, pois ele vai balizar este processo. Com isto, ele adquire preeminência sobre o aluno.

© 2008 Zelinda Barros. Reprodução permitida, desde que citada a fonte.

Nenhum comentário:

Pesquisa personalizada
Se quiser, pode copiar e reproduzir os artigos aqui publicados, desde que sejam citadas a fonte e a autoria.