Instituição apoiada pela ONU só cobra taxas de US$ 150 de alunos e implodiu custos graças a rede de voluntários
22 de outubro de 2012 | 7h 02
- O Estado de S.Paulo
"Ganhei dinheiro suficiente, é tempo de retribuir." Com essa frase o israelense Shai Reshef explicou ao portal americano Huffington Post por que decidiu criar uma das maiores iniciativas de ensino online do mundo, a University of the People (Universidade do Povo ou, na sigla em inglês, UoPeople).
Escolhido em 2010 pelo Huff Post como uma das pessoas que estão "mudando o jogo" da educação e neste ano pela revista Wired como uma das 50 personalidades que estão transformando o mundo, Reshef fez fortuna como executivo. Transformou a Kidum israelense de um cursinho preparatório para exames em um gigante da prestação de serviços educacionais - ela foi comprada pela americana Kaplan em 2005 por mais de US$ 25 milhões.
Depois disso, Reshef doou US$ 1 milhão para o projeto da UoPeple, lançado em 2009 com apoio da Organização das Nações Unidas. Com cursos de Administração e Ciências da Computação, a universidade cobra apenas uma taxa de inscrição e outra para custear o processo de avaliação, no valor total de US$ 150. A UoPeople tem vivido dessas taxas e da doação de fundações como a de Bill Gates, graças a um modelo de baixíssimo custo, apoiado em professores voluntários de primeira linha.
Reshef, que participou na semana passada, no Rio, do Global Economic Symposium, organizado pela Fundação Getúlio Vargas, planeja tornar a UoPeople sustentável a partir de 2015, sobrevivendo só com a receita das taxas, no que pode ser o primeiro modelo de negócio viável de uma instituição de ensino online. Nesta entrevista, ele falou sobre o interesse de firmar parcerias no Brasil:
Desde que o senhor lançou a UoPeople, houve várias outras iniciativas de ensino online gratuito, como Coursera e Udacity, ambos criados por professores da Universidade de Stanford. O que o sr. acha deles e como vê o atual estágio do ensino online?
A UoPeople apoia totalmente o conceito de Mooc (sigla em inglês para cursos abertos online massivos, criados para atingir grandes públicos) e o movimento de Recursos Educacionais Abertos (material e ferramentas de ensino com licença aberta de uso). Os Moocs representam a livre disseminação do conhecimento para o aperfeiçoamento da humanidade e são excelentes ferramentas de aprendizado.
A UoPeople se diferencia por ser uma universidade com currículo amplo que dá acesso a diplomas formais de Administração e Ciências da Computação. Os Moocs são bastante atraentes se a pessoa quer se aprofundar em um tópico específico ou deseja ver um professor renomado tratando de um tema, mas não abrem caminho para o diploma.
Outra distinção importante é o fato de que a UoPeople garante ao estudante atenção individualizada. Em vez de oferecer um só curso para milhões, quebramos os nossos em classes de 20, 30 estudantes. Isso permite ao instrutor fazer a supervisão e interagir com os alunos, algo básico no processo de aprendizado.
Qual é a situação atual do mundo no que diz respeito ao acesso ao ensino superior?
Milhões de pessoas em todo o planeta enfrentam obstáculos por limitações financeiras, geográficas, sociais e pessoais. Projeções da Unesco sugerem que até 2025 haverá um público de 98 milhões de jovens que precisam de ensino superior, mas não terão vaga nas instituições existentes.
O ensino online é uma maneira excelente de conseguir atender a essa demanda incrível por ensino superior - não só para atender demandas individuais, mas também para tornar o mundo um lugar melhor para todos.
Quais são os próximos passos da UoPeople? Vocês mantêm a meta de construir um modelo de negócios sustentável até 2015?
Embora não cobremos mensalidade, o ensino que oferecemos não é totalmente gratuito. Mas a UoPeople tem sido bem-sucedida em cortar quase todo o custo associado ao ensino superior. Não cobramos, por exemplo, por livros e material didático. Tudo o que pedimos é que o estudante pague uma taxa para entrar na nossa seleção, de US$ 50, e para bancar o processo de avaliação do seu curso, de US$100 - mesmo assim, só se eles puderem.
Precisamos de recursos no valor de US$ 6 milhões para chegar a 2015. Daí em diante, não apenas vamos nos sustentar integralmente com as taxas de avaliações como também poderemos ajudar a um número maior de estudantes que não podem pagá-las. Além disso, estamos criando um Portal de Minibolsas, o primeiro do gênero em qualquer universidade, no qual estudantes que não podem bancar as taxas podem contar sua história e pedir ajuda a nossos apoiadores que se interessam por patrocinar alunos.
Quantos estudantes, voluntários e funcionários vocês têm agora? E quais instituições apoiam a UoPeople?
Temos 3 mil voluntários e 1,5 mil estudantes de 132 países. Estamos ligados à Organização das Nações Unidas, à Escola de Direito da Universidade de Yale e à Iniciativa Global de Bill Clinton. Recebemos apoio de mais de 1 milhão de pessoas no Facebook e temos acordos de colaboração com a Universidade de Nova York, que identificou talentos entre nossos estudantes e os selecionou para seu câmpus em Abu Dhabi, e com a Hewlett-Packard, para oferecer estágios a alunos. Recebemos apoio de líderes de universidades como Oxford e de diversas fundações, entre elas as de Bill & Melinda Gates e do Google.
O que o senhor sabe sobre a educação no Brasil?
Sei o básico. Por exemplo, que os estudantes têm de passar por um processo competitivo para ter acesso ao ensino superior. Dos vários brasileiros que estudam conosco e compartilharam suas histórias, notamos que, além da gratuidade, um dos grandes motivos para escolher a UoPeople é a capacidade de se comunicar globalmente.
Temos depoimentos nessa linha: "Escolhi a UoPeople porque ela me oferece uma oportunidade de intercâmbio cultural, além de me ensinar a ser uma pessoa mais centrada. Se você quer ser especial, precisa fazer parte de algo especial".
Vocês planejam ter parcerias aqui no Brasil?
A UoPeople está aberta a parcerias em todo o mundo e está ansiosa por fechar acordos no Brasil, especialmente com gente disposta a patrocinar estudantes brasileiros.
O sr. mencionou em uma entrevista anterior a necessidade de se aperfeiçoar o ensino médio. Também disse que
achava que era uma tarefa urgente para governos e outras instituições trabalharem com níveis inferiores de educação.
Há progressos sendo feitos em relação a isso?
Quanto mais alunos se formarem no ensino médio, maior o número de pessoas que nós poderemos ajudar. Alguns governos até podem passar a considerar que o que fazemos na UoPeople tem potencial para ser aplicado nesse nível de ensino.
É correto, do ponto de vista de um governo, considerar o ensino gratuito de qualidade uma ferramenta para aumentar dramaticamente o Produto Interno Bruto (PIB)?
Não existe necessariamente uma correlação entre PIB alto e ensino gratuito. No entanto, há uma clara conexão entre PIB alto e altas taxas de acesso e frequência à universidade. Assim, deveria ser do interesse dos governos garantir taxas mais altas de acesso à universidade. Se as pessoas não conseguem pagar as mensalidades, o foco deveria ser garantir acesso ao ensino gratuito. Conhecemos diversos governos que estão olhando para o modelo que construímos na UoPeople como uma opção para lidar com essa situação.
Hoje, pelo menos aqui no Brasil, é muito comum ver autoridades e a sociedade em geral atribuir parte dos problemas do País à falta de instrução da população. Não faz sentido, nesse cenário, oferecer ensino online gratuito em larga escala?
Totalmente. Nós adoraríamos participar dessa missão tão importante - seja compartilhando nosso conhecimento ou oferecendo educação a mais brasileiros.
fonte: http://www.estadao.com.br/ noticias/impresso, universidade-virtual-descobre- o-brasil-,948933,0.htm
Escolhido em 2010 pelo Huff Post como uma das pessoas que estão "mudando o jogo" da educação e neste ano pela revista Wired como uma das 50 personalidades que estão transformando o mundo, Reshef fez fortuna como executivo. Transformou a Kidum israelense de um cursinho preparatório para exames em um gigante da prestação de serviços educacionais - ela foi comprada pela americana Kaplan em 2005 por mais de US$ 25 milhões.
Depois disso, Reshef doou US$ 1 milhão para o projeto da UoPeple, lançado em 2009 com apoio da Organização das Nações Unidas. Com cursos de Administração e Ciências da Computação, a universidade cobra apenas uma taxa de inscrição e outra para custear o processo de avaliação, no valor total de US$ 150. A UoPeople tem vivido dessas taxas e da doação de fundações como a de Bill Gates, graças a um modelo de baixíssimo custo, apoiado em professores voluntários de primeira linha.
Reshef, que participou na semana passada, no Rio, do Global Economic Symposium, organizado pela Fundação Getúlio Vargas, planeja tornar a UoPeople sustentável a partir de 2015, sobrevivendo só com a receita das taxas, no que pode ser o primeiro modelo de negócio viável de uma instituição de ensino online. Nesta entrevista, ele falou sobre o interesse de firmar parcerias no Brasil:
Desde que o senhor lançou a UoPeople, houve várias outras iniciativas de ensino online gratuito, como Coursera e Udacity, ambos criados por professores da Universidade de Stanford. O que o sr. acha deles e como vê o atual estágio do ensino online?
A UoPeople apoia totalmente o conceito de Mooc (sigla em inglês para cursos abertos online massivos, criados para atingir grandes públicos) e o movimento de Recursos Educacionais Abertos (material e ferramentas de ensino com licença aberta de uso). Os Moocs representam a livre disseminação do conhecimento para o aperfeiçoamento da humanidade e são excelentes ferramentas de aprendizado.
A UoPeople se diferencia por ser uma universidade com currículo amplo que dá acesso a diplomas formais de Administração e Ciências da Computação. Os Moocs são bastante atraentes se a pessoa quer se aprofundar em um tópico específico ou deseja ver um professor renomado tratando de um tema, mas não abrem caminho para o diploma.
Outra distinção importante é o fato de que a UoPeople garante ao estudante atenção individualizada. Em vez de oferecer um só curso para milhões, quebramos os nossos em classes de 20, 30 estudantes. Isso permite ao instrutor fazer a supervisão e interagir com os alunos, algo básico no processo de aprendizado.
Qual é a situação atual do mundo no que diz respeito ao acesso ao ensino superior?
Milhões de pessoas em todo o planeta enfrentam obstáculos por limitações financeiras, geográficas, sociais e pessoais. Projeções da Unesco sugerem que até 2025 haverá um público de 98 milhões de jovens que precisam de ensino superior, mas não terão vaga nas instituições existentes.
O ensino online é uma maneira excelente de conseguir atender a essa demanda incrível por ensino superior - não só para atender demandas individuais, mas também para tornar o mundo um lugar melhor para todos.
Quais são os próximos passos da UoPeople? Vocês mantêm a meta de construir um modelo de negócios sustentável até 2015?
Embora não cobremos mensalidade, o ensino que oferecemos não é totalmente gratuito. Mas a UoPeople tem sido bem-sucedida em cortar quase todo o custo associado ao ensino superior. Não cobramos, por exemplo, por livros e material didático. Tudo o que pedimos é que o estudante pague uma taxa para entrar na nossa seleção, de US$ 50, e para bancar o processo de avaliação do seu curso, de US$100 - mesmo assim, só se eles puderem.
Precisamos de recursos no valor de US$ 6 milhões para chegar a 2015. Daí em diante, não apenas vamos nos sustentar integralmente com as taxas de avaliações como também poderemos ajudar a um número maior de estudantes que não podem pagá-las. Além disso, estamos criando um Portal de Minibolsas, o primeiro do gênero em qualquer universidade, no qual estudantes que não podem bancar as taxas podem contar sua história e pedir ajuda a nossos apoiadores que se interessam por patrocinar alunos.
Quantos estudantes, voluntários e funcionários vocês têm agora? E quais instituições apoiam a UoPeople?
Temos 3 mil voluntários e 1,5 mil estudantes de 132 países. Estamos ligados à Organização das Nações Unidas, à Escola de Direito da Universidade de Yale e à Iniciativa Global de Bill Clinton. Recebemos apoio de mais de 1 milhão de pessoas no Facebook e temos acordos de colaboração com a Universidade de Nova York, que identificou talentos entre nossos estudantes e os selecionou para seu câmpus em Abu Dhabi, e com a Hewlett-Packard, para oferecer estágios a alunos. Recebemos apoio de líderes de universidades como Oxford e de diversas fundações, entre elas as de Bill & Melinda Gates e do Google.
O que o senhor sabe sobre a educação no Brasil?
Sei o básico. Por exemplo, que os estudantes têm de passar por um processo competitivo para ter acesso ao ensino superior. Dos vários brasileiros que estudam conosco e compartilharam suas histórias, notamos que, além da gratuidade, um dos grandes motivos para escolher a UoPeople é a capacidade de se comunicar globalmente.
Temos depoimentos nessa linha: "Escolhi a UoPeople porque ela me oferece uma oportunidade de intercâmbio cultural, além de me ensinar a ser uma pessoa mais centrada. Se você quer ser especial, precisa fazer parte de algo especial".
Vocês planejam ter parcerias aqui no Brasil?
A UoPeople está aberta a parcerias em todo o mundo e está ansiosa por fechar acordos no Brasil, especialmente com gente disposta a patrocinar estudantes brasileiros.
O sr. mencionou em uma entrevista anterior a necessidade de se aperfeiçoar o ensino médio. Também disse que
achava que era uma tarefa urgente para governos e outras instituições trabalharem com níveis inferiores de educação.
Há progressos sendo feitos em relação a isso?
Quanto mais alunos se formarem no ensino médio, maior o número de pessoas que nós poderemos ajudar. Alguns governos até podem passar a considerar que o que fazemos na UoPeople tem potencial para ser aplicado nesse nível de ensino.
É correto, do ponto de vista de um governo, considerar o ensino gratuito de qualidade uma ferramenta para aumentar dramaticamente o Produto Interno Bruto (PIB)?
Não existe necessariamente uma correlação entre PIB alto e ensino gratuito. No entanto, há uma clara conexão entre PIB alto e altas taxas de acesso e frequência à universidade. Assim, deveria ser do interesse dos governos garantir taxas mais altas de acesso à universidade. Se as pessoas não conseguem pagar as mensalidades, o foco deveria ser garantir acesso ao ensino gratuito. Conhecemos diversos governos que estão olhando para o modelo que construímos na UoPeople como uma opção para lidar com essa situação.
Hoje, pelo menos aqui no Brasil, é muito comum ver autoridades e a sociedade em geral atribuir parte dos problemas do País à falta de instrução da população. Não faz sentido, nesse cenário, oferecer ensino online gratuito em larga escala?
Totalmente. Nós adoraríamos participar dessa missão tão importante - seja compartilhando nosso conhecimento ou oferecendo educação a mais brasileiros.
fonte: http://www.estadao.com.br/
Um comentário:
Como faço para me coligar a esta iniciativa?
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